Introdução
Nos debates modernos sobre justiça social e políticas públicas, “equidade” tem sido exaltada como a solução para desigualdades históricas. Mas será que essa proposta realmente conduz à justiça — ou apenas mascara uma tentativa de controle ideológico sobre a liberdade individual?
Neste post, proponho uma reflexão crítica: a equidade como ferramenta institucionalizada é uma falácia.
Por mais nobre que pareça, buscar nivelar a sociedade por meio da força estatal ignora a diversidade humana, as escolhas individuais e os princípios de responsabilidade pessoal.
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lucas 9:23)
“E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:27)
Estas citações destacam principalmente que o compromisso com a responsabilidade individual é diário — não apenas um momento, mas uma jornada constante. Mostra que seguir Jesus exige compromisso e disposição para enfrentar dificuldades.
Diferença entre equidade e igualdade
Igualdade é tratar a todos de forma idêntica, independentemente das circunstâncias.
Equidade, por outro lado, busca compensar desigualdades oferecendo diferentes condições para diferentes pessoas — com a promessa de alcançar “justiça verdadeira”.
Embora o conceito de equidade soe inclusivo, ele se apoia em uma visão centralizada e impositiva sobre o que seria um “ponto de partida justo”. Mas… quem define esse ponto?
Quem, se não Deus, seria capaz de reparar com justiça qualquer tipo de injustiça? O processo de equidade proposto por ideologias tende a nos afastar da Palavra de Deus e daquilo que ele nos designou a fazer para buscá-lo na Eternidade.
“Não digo isso para que os outros tenham alívio e vós opressão, mas para que haja igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a abundância deles supra a vossa falta, e assim haja igualdade.” (2 Coríntios 8:13-14)
Aqui, São Paulo exerce um papel fundamental para ensinar a verdadeira caridade. Esses versículos fazem parte de um apelo que Paulo está fazendo à igreja de Corinto para que contribuam financeiramente com os cristãos pobres da igreja em Jerusalém. Ele está organizando uma coleta entre as igrejas gentílicas (fora da Judeia) para ajudar os irmãos judeus que estavam passando por dificuldades. Paulo já havia elogiado a generosidade das igrejas da Macedônia (como Filipos e Tessalônica), que mesmo em meio à pobreza contribuíram com alegria. Agora, ele incentiva os coríntios — que viviam numa cidade próspera — a fazerem o mesmo.
- Equilíbrio e justiça: Paulo não quer que os coríntios se sintam explorados, mas que haja uma troca justa — quem tem mais hoje ajuda quem tem menos, e vice-versa, se necessário.
- Solidariedade cristã: A generosidade não é apenas uma questão de dinheiro, mas de comunhão e amor entre os irmãos.
- Modelo bíblico de igualdade: Ele cita o exemplo do maná no deserto (Êxodo 16:18), onde cada um recolhia o necessário, e ninguém tinha falta ou excesso.
Esse trecho demonstra que a fé cristã não é indiferente às desigualdades sociais. Paulo propõe uma ética da generosidade, onde os recursos são compartilhados com sabedoria e amor, sem imposição, mas com consciência.
A verdadeira caridade descansa nos ombros daqueles que humildes de coração, praticam-na sem que alguma força, as obriguem. Um completo oposto ao sistema de equidade proposto pelas ideologias pagãs.
O paradoxo da justiça
A justiça mundana, como bem observado, é um ponto de vista, não uma verdade absoluta. O Estado, ainda que guiado por boas intenções, não tem capacidade de arbitrar algo tão mutável. Culturas, épocas e indivíduos interpretam a justiça de maneiras distintas. Tentar oficializar um modelo único que não seja derivado da Verdade divina, é não só utópico, mas perigoso.
Cria uma realidade que nos afasta de Deus pois para que mereçamos estar ao seu lado na Eternidade, devemos despertar de forma genuína a capacidade de agir por vontade própria em favor da caridade.
Então existem diversos males sendo trabalhados e induzidos quando criamos um sistema impositivo de distribuição de recursos em prol da equidade:
1️⃣ Segregação: Incentivo contrário à verdadeira caridade
Quando se cria um sistema que obriga uns a doarem seus espólios frutos de seu trabalho para outros, cria-se também uma resistência natural dada a natureza tirânica do modelo. Este é um modelo equivalente ao roubo. O que as pessoas sentem quando são roubadas? As pessoas que acenderem socialmente estarão cada vez mais insatisfeitas pelo sistema de confisco e tentarão cada vez mais driblar este sistema.
Por sua vez, será cada vez mais comum utilizar para ganho de votos e apoio popular o argumento de que quem tem mais explora de quem tem menos, portanto justificaria o sistema de confisco se tornar cada vez mais tirânico para promover a Equidade.
Este sistema cria uma segregação social onde a vontade genuína de ajudar o próximo pela verdadeira caridade, desaparece completamente, dando lugar a uma realidade de divisões. Não é surpresa para ninguém que o resultado prático não é uma vida mais confortável para ninguém, que não os poderosos que usam destes argumentos pagãos para se perpetuarem poderosos.
2️⃣ Cultura: Ciclo vicioso
Tudo aquilo que se pratica por muito tempo, tende também a estabelecer um sistema cultural. Se é estabelecido uma realidade tendenciosa para o mal, o ciclo vicioso torna-se uma prática comum onde as pessoas se perdem completamente da noção da Verdade — preocupando-se cada vez com aquilo que é mundano.
Existe um propósito para cada composto da nossa existência.
“Que o próprio Deus de paz vos santifique inteiramente; que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tessalonicenses 5:23)
Aqui, São Paulo reconhece a composição tripartida do ser humano e deseja verdadeiramente que o espírito e a alma estejam em harmonia com Deus.
Como harmonizar estes componentes se os incentivamos sociais são exatamente para tornar as pessoas cada vez mais preocupadas em supervalorizar o corpo e o mundano, acima de todo o restante?
3️⃣ Valores: Materialismo mundano em detrimento da Alma e do Espírito
Santa Teresa d’Ávila é uma das maiores místicas da Igreja, e sua obra O Castelo Interior é uma verdadeira joia para entender a dinâmica entre corpo, alma e espírito. Ela não usa esses termos sempre de forma técnica, mas sua visão espiritual permite distinguir e relacionar esses três componentes com profundidade:
- O Corpo é necessário, mas deve ser domado. Teresa não o despreza, mas o vê como instrumento que precisa estar a serviço da Alma;
- A Alma é o campo de batalha e de transformação. Ela é nossa essência e passa por purificações, tentações e graças conforme avança pelas moradas — estágios espirituais.
- O Espírito é o ponto de união com Deus. Quando a Alma chega à sétima morada, o núcleo divino — a parte mais íntima da alma onde Deus habita — ela se une ao Espírito e vive em comunhão com o divino.
Uma sociedade que utiliza o Corpo como instrumento para outros propósitos que não sejam elevar a Alma, jamais viverão em comunhão com o divino. Portanto dificilmente escaparão da condenação divina. Santa Teresa descreve que muitas pessoas vivem apenas nas “cercanias” do castelo — ou seja, preocupadas com o Corpo e com o mundo exterior — sem nunca entrar nas moradas interiores. A oração, segundo ela, é o caminho para atravessar essas moradas e alcançar o Espírito, onde Deus espera.
O valor do mérito e da trajetória individual
Cada pessoa trilha um caminho singular. Mesmo famílias com irmãos criados sob as mesmas condições geram destinos completamente distintos — prova de que esforço, personalidade e decisões individuais moldam a vida mais do que as circunstâncias iniciais.
Distribuir recursos de forma desigual sob o argumento de compensação histórica, como faz a equidade institucional, inevitavelmente penaliza quem se esforça mais e favorece quem se esforça menos. Isso é o contrário de justiça: é tutela e punição ao mérito.
Isto cria outro tipo incentivo, onde a virtude do trabalho honesto passa a ser desencorajado, uma consequência direta do ciclo vicioso de preocupações mundanas, causado pelo sentimento pecaminoso da inveja — travestido de justiça social.
📜 Parábola dos Talentos
“14 Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.
15 E a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.
16 E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles e granjeou outros cinco talentos.
17 Da mesma sorte, o que recebera dois granjeou também outros dois.
18 Mas o que recebera um foi, e cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19 E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
20 Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles.
21 E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
22 E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos.
23 Disse-lhe o seu senhor: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
24 Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste;
25 E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
26 Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
27 Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros.
28 Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos.
29 Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.
30 Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.”
(Mateus 25:14-3)
Quais lições tiramos desta parábola?
- Deus distribui conforme a capacidade de cada um. Não há injustiça na distribuição inicial — há sabedoria e propósito;
- O mérito está em multiplicar, não apenas conservar. Os servos que agiram com coragem e diligência foram recompensados;
- O medo e a omissão são condenados. O servo que enterrou o talento foi chamado de “mau e negligente”;
- A recompensa é proporcional ao esforço, não à quantidade recebida. “Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei.”;
- A justiça divina é ativa e exige prestação de contas. Quem não produz, mesmo tendo recebido, perde até o que tem;
- A consequência da inércia é o afastamento da presença do Senhor. Lançai o servo inútil nas trevas exteriores.
Veja que este ciclo vicioso destrói a coragem tão necessária para que os pequeninos, cresçam. É nefasto!
A perspectiva espiritual
Na visão cristã, somos orientados a focar na nossa própria jornada. “Não se preocupe com a prosperidade alheia”, ensina a sabedoria bíblica. Essa abordagem reforça a ideia de que o crescimento real vem da ação pessoal, da fé e da resiliência — não de comparações ou interferências externas.
A equidade generalizada é uma falácia porque parte de uma premissa impossível: que é possível arbitrar justiça de forma uniforme em uma sociedade diversa e dinâmica. A tentativa de nivelar desiguais por meio da força estatal é não apenas utópica — é injusta com quem escolhe se empenhar.
A verdadeira justiça está em oferecer liberdade plena para que cada pessoa seja autora de sua história. E, quando há caridade, solidariedade e empatia voluntária, aí sim o mundo se transforma — sem precisar impor igualdade de resultado.
Um Convite para Reflexão
Este não é um apelo à neutralidade. É uma proclamação: a equidade institucional, quando dissociada da liberdade individual e da verdadeira caridade, é uma falácia que corrompe a justiça e fragiliza a virtude.
A verdade não é um ponto de vista negociável. A Verdade é revelada por Deus, e tudo o que se afasta dela torna-se caricatura de justiça. Quando o mérito é punido e a omissão é premiada, não há progresso — há decadência moral travestida de boa intenção.
Este texto não se curva à relativização dos princípios. Ele afirma com clareza: Somos chamados à responsabilidade pessoal, ao esforço sincero, à generosidade voluntária e à retidão espiritual. A tentativa de nivelar destinos por imposição estatal destrói aquilo que a fé cristã mais valoriza: a liberdade de servir com amor e não por coerção.
Portanto, este é um convite — não ao conformismo, mas ao despertar. Um chamado para que cada alma reflita sobre a sua missão eterna. Que o leitor abandone os simulacros de virtude promovidos por ideologias passageiras e reencontre o caminho da verdade que liberta.
Porque no fim da vida, não seremos julgados pelo que nos deram, mas pelo que fizemos com aquilo que recebemos. E que possamos então ouvir:
“Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei.” (Mateus 25:21)

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